Meu camarada e companheiro de redação no velho Diário Popular e SportsJá!, Maurício Noriega, competente comentarista do Sportv, faz em seu blog um belo texto analisando as imbecilidades protagonizadas pelos cartolas de São Paulo e Palmeiras nos últimos dias, que reproduzo abaixo. E endosso!
O LADO ESTÚPIDO DA RIVALIDADE ENTRE CARTOLAS
Ultrapassou qualquer limite do ridículo e da estupidez a rivalidade movida a picuinhas entre dirigentes do Palmeiras e do São Paulo. Antes de falar sobre o tema, que fique claro: o ocorrido no vestiário dos visitantes do estádio Palestra Itália merece investigação rigorosa e punição exemplar aos responsáveis pela atitude jurássica, mas que ainda é muito mais frequente do que se imagina no futebol brasileiro.
Voltemos ao tema das picuinhas entre tricolores e alviverdes. Há uma enorme parcela de culpa do lado mais fofoqueiro e menos responsável da impresa paulista. Uma parcela que adora dar voz a personagens periféricos como Marco Aurélio Cunha e Toninho Cecílio, ávida que é, esta parcela, por uma polêmcia vazia, dada a falta de capacidade de procurar assunto relevante. Uma parcela da imprensa que usa de maneira irresponsável o termo guerra, que adora fazer jogo de palavras com declarações de um lado e de outro e, cada vez mais, se afasta do objetivo principal da função: informar e opinar com isenção e resposabilidade.
Os jovens torcedores de Palmeiras e São Paulo que não se entusiasmem muito na defesa de suas cores nesse debate de estupidez, porque não existem santos em ambos os lados dessa trincheira de imbecilidades. O passado de ambos condena. Os homens que hoje comandam os destinos dessas duas instituições ainda parecem contaminados por uma história mal resolvida dos tempos da Segunda Guerra, quando, afirmam os então palestrinos, que o São Paulo trabalhou para tentar interromper as atividades do clube, pelo nome e a ligação evidente com a pátria do regime de Mussolini, integrante das forças do Eixo. O argumento dos verdes era de que o São Paulo queria se apropriar das instalações do clube. Os tricolores negam. Isso ainda não foi digerido por ambas as partes e hoje alimenta uma rivalidade idiota, que ultrapassa os limites da disputa sadia.
O Palmeiras sonha com o espaço que o São Paulo conquistou, e o São Paulo identifica no Palmeiras um rival capaz de ocupar esse espaço. Está feito o roteiro de uma ópera bufa, que escancara uma absurda arrogância de ambas as partes.
A história mostra que tanto dirigentes do Palmeiras como do São Paulo já aprontaram das boas. Havia um falecido policial civil de cargo importante, cartola do Palmeiras e dirigente de federação, que assistia aos jogos dentro de campo e desferia impropérios e ameaças contra bandeirinhas e juízes, ciente de que sua "autoridade" era sinônimo de impunidade. Em 1981, num jogo contra o Botafogo, pelo Brasileirão, o São Paulo deu acesso ao campo a boa parte de seu Conselho Deliberativo, que, no gramado do Morumbi, pressionou arbitragem e jogadores do Botafogo até conseguir a virada por 3 a 2. As imagens da TV mostram uma horda cercando o campo de jogo. O Palmeiras dos tempos de Felipão escalava seguranças como gandulas para intimidar e provocar os adversários, e um deles até brigou com Marcelinho Carioca, do Corinthians, em um clássico. Num São Paulo x Fluminense em 1986 (essa quem me confirmou foi o Muller), seguranças do São Paulo agrediram a vassouradas os jogadores do Fluminense no túnel de acesso ao vestiário do Morumbi. Não raro, nos acessos de jogadores aos vestiários de Palestra Itália e Morumbi, jogadores são ameaçados e agredidos a cusparadas, sem contar xingamentos e todo tipo de ameaças.
Ou seja, não tem santo nessa história. Como não tem santo em time algum como dirigente do futebol brasileiro. Por aqui ainda reza a lógica do falso malandro, aquele que se acha mais esperto. Que permite que torcedor entre em ônbius de jogador e viaje no mesmo avião apenas para intimidar. Que passa informação priviliegiada a torcedor sobre comportamento de atleta e autoriza certo tipo de protesto. Que paga ingresso para torcedor e dá dinheiro para não ser vaiado. Que manda pintar vestiário na véspera de jogo, coloca escorpião, corta a água quente, manda soltar rojão na porta de hotel, essas coisas que provam que existe pouca diferença entre a raça humana e os primatas. Coisa de um genezinho besta.
O que falta é punição exemplar. O que falta é discernimento para certo tipo de dirigente de futebol que se acha mais importante que a instituição que representa. O que falta é capacidade de compreender que futebol é apenas um jogo, um baita de um jogo, mas que não vale a vida e nem a morte de ninguém. O que falta é educação para receber bem o advesário. Os vestiários de visitantes nos estádios brasileiros são um acinte, uma vergonha.
Portanto, já passou da hora das pessoas de bem que militam em São Paulo e Palmeiras - e felizmente elas existem - darem um basta nessa picuinha idiota e se comportarem pelo menos à altura das tradições desses dois clubes e de dirigentes de mais estofo e categoria que os sucederam. Os excessos de hoje precisam ser punidos para que os do passado sejam, finalmente, esquecidos, e não voltemos a falar desse tema no futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário