À esquerda, um foca tentando entrevistar um Rei |
A primeira vez em que me deparei frente à frente com Pelé eu era um "foca" - adjetivo que no jargão jornalístico identifica os profissionais recém-formados. Em 1986, trabalhava na revista Placar, logo depois de ter me formado. Num determinado dia, fui escalado para cobrir um evento no qual Pelé estaria presente. Já não faço a menor ideia do que se tratava a pauta e isso pouco importa. Só me lembro que fui até o Hotel Transamérica com a missão de entrevistar Pelé.
Logo descobri que falar com Edson Arantes do Nascimento não era uma tarefa muito fácil. Pelo contrário. Um mundo de gente queria falar com Pelé. e mal ele entrou no salão, lá foi o foca atrás dele, na tentativa destrambelhada de conseguir alguma declaração interessante. Mas nada. Eis que a porto do salão onde ele participaria de um evento fechado se aproximava e nada de conseguir falar com ele. Quando já estava vendo o fracasso chegar e já pensando no tamanho da bronca que iria levar na redação, eis que Pelé me puxou pelo braço e ouviu uma ou duas perguntas (provavelmente idiotas) e me respondeu com paciência. Incrível.
A outra vez em que presenciei de perto o magnetismo que a figura de Pelé causa nas pessoas ocorreu 11 anos depois. Estava em Mar del Plata, pelo então Diário Popular, cobrindo os Jogos Pan-Americanos. A estrutura parea a imprensa era péssima e a melhor forma de falar com os atletas brasileiros sem ser nos campos ou ginásios era na porta dos alojamentos das delegações, localizados em uma espécie de resort, localizado bem longe do centro da cidade.
Um dia antes da abertura dos Jogos, soubemos que Pelé, então ministro do Esporte no primeiro mandato de FHC, iria visitar o alojamento dos brasileiros. O mesmo prédio que abrigava o Brasil também recbia atletas de alguns outros países. Chile e Honduras estavam no mesmo local, se não me engano.
A segurança argentina estava em polvorosa. O chefe da segurança, um mala sem alça que apelidamos de general Videla (o militar que mais torturou na época da ditadura do país), dizia que ninguém poderia acompanhar a visita de Pelé. Depois de muita negociação e discussão, conseguimos um acordo que um jornalista por veículo poderia entrar no alojamento.
Só que quando Pelé e sua comitiva chegaram ao prédio, o esquema de segurança do Videla foi pro saco. Todos os jornalistas brasileiros entraram no prédio, atrás de Pelé, que sem brincadeira, abraçou a todos, não importantando se era brasileiro ou não. Sempre escutei e li que a presença de Pelé causava uma espécie de comoção coletiva. Naquele dia, vi que não se tratava de um exagero.
Mas a cereja do bolo ainda estava para acontecer. Antes de deixar o local, Pelé, pessoalmente, chamou todos os jornalistas brasileiros para tirar uma foto. E a turma que cobriu aquele Pan-Americano ganhou naquele dia sua medalha de ouro: uma foto ao lado de Pelé. Até o Videla saiu no retrato. Demos esta canja pra ele. Afinal, quando ele poderia tirar uma foto ao lado de um Rei?
Um comentário:
Adorei!
Vc continua igual! Não mudou nada. Lembrança boa! Quem era o editor nessa época?
Beijos,
Irma
Postar um comentário