Muito para poucos. Eis a lógica do COB
Em 1974, o economista brasileiro Edmar Bacha criou uma expressão para definir a distribuição de renda do Brasil. Segundo ele, a maior parte da riqueza do país estaria concentrada numa pequena Bélgica, enquanto a pobreza ficaria reservada para a grande Índia, resultando na “Belíndia”. Na semana passada, a definição do professor Bacha voltou a ser usada. Revoltado com a proposta do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) de distribuição de verbas da Lei Piva para o ciclo olímpico visando os Jogos de Londres-2012, o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, Alaor Azevedo, não se preocupou em escolher as palavras e bateu pesado na entidade que comanda o esporte olímpico brasileiro.
“Nesse esquema do COB, seis Confederações ficam com tudo e as outras com nada. Você distribui a pobreza e cria uma 'Belíndia'. Alguns esportes moram na Bélgica, outros na Índia", disparou Azevedo. Mesmo no comando de uma modalidade que vem colecionado raros bons resultados internacionais (os fracos Jogos Pan-Americanos, onde o interminável Hugo Hoyama consegue brilhar, são a exceção), Azevedo tem razão em suas críticas. Pelo novo modelo proposto, o COB irá premiar a meritocracia (palavrinha horrorosa, hein?), cujo objetivo é premiar as modalidades que conseguirem alcançar os melhores resultados em competições internacionais.
No papel, tudo muito bonito. O problema é que entidades que já recebem gordas verbas estatais, como atletismo, vôlei, desportos aquáticos e judô, poderão ser brindadas com a maior fatia do bolo: R$ 2,5 milhões cada uma, em 2009. O tênis de mesa, de Alaor Azevedo, levaria pela proposta R$ 1,6 milhão, mas alguns esportes podem ficar com menos dinheiro ainda, como badminton, esgrima, levantamento de peso e lutas (R$ 700 mil cada um). A definição da distribuição da verba da Lei Piva será em 3 de dezembro, mas pelo jeito, a Belíndia do esporte brasileiro está longe de acabar.
Incompetência punida
Talvez a única coisa justa da proposta do COB tenha sido o repasse à Confederação Brasileira de Basquete. Para 2009, a verba seria de R$ 1,5 milhão, bem menos do que os R$ 2.278.000 recebidos em 2008. Mas está bom demais para a CBB, que só coleciona vexames internacionais (como a ausência da seleção masculina em Olimpíadas desde 1996) e tem até um patrocínio estatal.
Estranho esquecimento
Pegou muito mal a nota publicada no site da Confederação Brasileira de Ginástica, tentando desmentir reportagem publicada pelo DIÁRIO, do repórter José Eduardo Martins, sobre a ameaçada entidade em processar as atletas que criticaram os métodos de treinamento. Será que além de omissos os dirigentes da CBG também sofrem de amnésia?
A coluna Diário Esportivo, assinada por este blogueiro, é publicada às sextas-feiras no Diário de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário