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domingo, 4 de outubro de 2009

Reflexões olímpicas


Passadas quase 48 horas depois do anúncio de que o Rio de Janeiro será a sede das Olimpíadas de 2016, depois de ler a opinião de vários colegas (alguns que inclusive são amigos pessoais) sobre o tema, concordando aqui, discordando acolá, agora chegou a vez de, enfim, dar a minha opinião a respeito da decisão do Comitê Olímpico Internacional.

(Quer dizer, pelo menos aqui no blog, porque para os colegas do Diário, familiares e outros amigos, já havia deixado claro o que pensava sobre isso...)

Em primeiro lugar, gostaria de contar uma breve história pessoal...

Qualquer um que um dia tenha sonhado em ser jornalista esportivo sempre teve em seus objetivos de carreira cobrir os grandes eventos internacionais do esporte. Os mais nobres e famosos, como a Copa do Mundo de futebol ou os Jogos Olímpicos; um Grande Prêmio de Fórmula 1; um Campeonato Mundial de basquete, vôlei, atletismo ou natação, e por aí vai.

Diante disso, seria claro supor que como jornalista esportivo com mais de 25 anos de carreira, eu deveria estar aqui vibrando demais com a escolha do Rio como sede das Olimpíadas. Puxa, ter um evento deste nível em meu próprio país!

Da mesma forma, como brasileiro, deveria me orgulhar e até me emocionar, assim como o Presidente Lula o fez na última sexta-feira, com a mudança de status que o Brasil passou a ter perante a comunidade internacional, enterrando de vez o tal "complexo de vira-latas", imortalizado por Nelson Rodrigues.

Deveria, por fim, celebrar a oportunidade de ouro que o Rio de Janeiro terá para, nos próximos sete anos, tornar-se uma cidade muito melhor do que é hoje, graças às melhorias que receberá com os investimentos em infraestrutura.

Mas não é bem assim que a coisa funciona, pessoal.

O fato de ter as Olimpíadas realizadas praticamente no quintal da minha casa não bastam para tapar meus olhos para o preço (literalmente) que será paga por esta festança. Uma das qualidades que posso me orgulhar ao longo desta caminhada jornalística foi sempre me mostrar coerente e buscar o equilíbrio em meu trabalho. Por isso, em nome desta coerência e equilíbrio é que não posso concordar com os Jogos Olímpicos no Brasil.

Trata-se da mesma turma que organizou o Pan-Americano de 2007, aquele mesmo Pan cujas contas ainda não foram aprovadas pelo TCU e que ficou marcado pela farra das obras sem licitação. O Pan do vexame do torneio de beisebol, que não pôde ser encerrado em razão do péssimo local escolhido pelos organizadores. O Pan que tanto se falou de legado para o povo carioca, mas que de prático quase nada deixou.

Não, não posso ser a favor disso.

E não se trata, ao contrário do que alguns de meus brilhantes colegas andaram escrevendo em jornais, colunas e blogs, de eterno complexo de inferioridade ou mania de ver defeito em tudo. Não se trata também de pregar pura e simplesmente que não se deve fazer nada em razão da corrupção do Brasil. Corrupção tem em todo o mundo.

Trata-se, sim, de preferir que se invista esta dinheirama olímpica na criação de uma verdadeira política esportiva para o Brasil, e não apenas no conto de fadas que o COB tenta nos empurrar goela abaixo, com números e mais números do investimento da Lei Agnelo/Piva nas confederações.

Eu me dou ao direito de não concordar com a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil (ao contrário do que alguns canais de TV insistem em dizer, as Olimpíadas não são só de uma cidade, mas do país inteiro). Mas já que os Jogos virão, me resta, como jornalista, preparar-me para a intensa cobertura que virá pela frente. E esta não ficará restrita às competições nas pistas, piscinas, campos e quadras. Mas também fiscalizando o uso do dinheiro público, sempre informando corretamente o leitor/internauta, sem aderir à turma do "oba-oba" da imprensa.

E um último aviso: ser contra os Jogos Olímpicos no Rio não faz de mim um mau brasileiro.

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