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sexta-feira, 5 de março de 2010

A Copa do Mundo é nossa (5)

Da Folha de S. Paulo - 5/03/2010

Horário incomum irrita torcedores, causa tumulto e muda rotina do bairro

EDUARDO OHATA
SANDRO MACEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Acostumado aos jogos noturnos de seu time, Iraildo de Oliveira achou que a matinê corintiana, às 17h, era a ocasião ideal para levar sua filha de oito anos para ver sua primeira partida de futebol.

Chegou às 15h30. Às 18h20, ainda do lado de fora do Pacaembu, Iraildo deixava o estádio sem poder entrar. "Eu não vim pedir nada, vim pagar. É esse o país que vai sediar a Copa?", esbravejou o indignado torcedor, que segurava a mão da filha, chorosa.

Quando já corriam mais de 20min do segundo tempo, a bilheteria anunciou queda no sistema e parte da torcida correu em direção à entrada principal do estádio para forçar a entrada. A polícia agiu rápido e conteve os mais impulsivos. A confusão logo foi dissipada.

O tumulto foi o resultado do problema que ocorreu desde o início da tarde. Como Iraildo, cerca de 2.000 torcedores, segundo a polícia, formaram uma longa fila única, que andava lentamente. Com o horário mais cedo, apostando num público reduzido, a maioria dos corintianos deixou para comprar ingresso pouco antes do horário da partida.

Pais que buscavam os filhos em escolas no entorno do estádio sentiram efeitos da mudança de "fuso horário" da bola. Mães foram pegas de surpresa. Foi o caso de Samanta Cafardo, 35, que planejava buscar mais cedo a filha, Lara, 3, que estava febril, na escola.

"Não imaginava que tinha jogo hoje [ontem]. Demorei cinco vezes mais do que costumo no mesmo trajeto."

"Os jogos atraem flanelinhas, que não respeitam nem perua escolar, ameaçam amassar seu carro", reclamou Washington Luis, 42, motorista de transporte escolar que atende a quatro escolas.Em suma, o coro de falta de organização foi geral. Orientadores com jaleco com o distintivo do Corinthians argumentavam que a torcida chegou em cima da hora. E se defendiam dizendo que a bilheteria estava aberta havia dias e, ontem, já funcionava às 9h.Quando a reportagem chegou, nove guichês funcionavam. Mas torcedores diziam que só dois ou três estavam abertos no início da tarde.

"Não deveriam colocar jogo nesse horário. Quinta? Às 17h? Muita gente acha que não vai ninguém", argumentou Eric Rafael, 24, que, como Iraildo, foi embora quando a partida já passava de sua metade, sem entrar no estádio.

"Claro que estou indo embora. Para que ficar? Para entrar quando o jogo já tiver acabado?", reclamou Laio Santos, 18, fiscal de micro-ônibus.

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