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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Uma sensata análise sobre a polêmica do Morumbi na Copa de 2014

Do blog do Erich Beting vem uma das análises mais sensatas que vi recentemente sobre a confusão envolvendo São Paulo, Morumbi, Fifa, Copa 2014...

Sobre o Morumbi e a Copa

Ainda não consegui ler e começar a responder aos comentários deixados por aqui referentes ao post anterior. Mas, numa visita superficial, o que deu para perceber é que muita gente fala mais com o coração do que com a razão. Por isso, já vou deixar aqui um breve comentário.

A princípio, nenhum estádio brasileiro tem condições de receber a Copa do Mundo. Não pelos padrões exigidos pela Fifa. Os ajustes são necessários e alguns já começaram a fazê-los (o Inter iniciou a cobertura do Beira-Rio, por exemplo).

A minha maior crítica é ao jogo político que existe para minar uma possível sede do Morumbi. Aos que responderam com ironia ao fato de que coloquei aqui de que há um jogo político envolvendo até a FPF na história, infelizmente é a realidade. É só lembrar como andam as relações entre São Paulo e federação desde o caso Madonna.

Aos que também acham ser impossível a CBF manipular os interesses da Fifa, é só olhar com mais carinho todo o processo de escolha do Brasil como sede da Copa, para ficar só no superficial. E lembrar quem foi o padrinho político de Joseph Blatter na Fifa e de Ricardo Teixeira na CBF.

Quando se pensa numa Copa do Mundo no país, o ideal é que ela sirva para melhorarmos instalações esportivas e, de quebra, a infraestrutura das cidades-sedes sob diversos aspectos. Como o Brasil ainda tem inúmeros problemas estruturais, a Copa pode ser um excelente catalisador de reformas que precisam ser feitas, mas sempre são adiadas por questões políticas.

O problema é que o Mundial tem servido como desculpa para que "verdades absolutas" sejam estabelecidas no que concerne à gestão e construção de arenas aqui no Brasil. O tema é absolutamente novo no país. Basta lembrar que, desde 1994, apenas três novos estádios foram construídos no país (Arena da Baixada, Volta Redonda e Engenhão) ao passo que, na Europa, os números ultrapassam facilmente os 50 nesse mesmo período de 15 anos.

Essa falta de conhecimento faz com que coloquemos muito mais a emoção do que a razão na hora de questionar a realização da Copa, principalmente no que diz respeito às instalações esportivas. Não há capacidade econômica para São Paulo ter um quinto estádio, assim como a construção de uma arena para 45 mil pessoas em Cuiabá é economicamente difícil de se viabilizar no curto, no médio e no longo prazo.

Em 2002, Japão e Coreia do Sul realizaram o mundial com 20 sedes, sendo dez em cada país. Desse total de 20 estádios, metade não tem funcionalidade hoje. E estamos falando de japoneses e coreanos!

Por fim, um relato pessoal que serve de explicação para quem acha que o Morumbi é um estádio ultrapassado.
Estive em Berlim, na final da Copa do Mundo de 2006. O estádio Olímpico é muito similar ao Morumbi no que diz respeito à distância do torcedor até o campo. Tanto que foi impossível entender o que Zidane fez em Materazzi ali, dentro do estádio. O árbitro da partida foi vaiado até o final do jogo, porque parecia que tinha sido uma expulsão injusta. O Olímpico de Berlim foi construído em 1936 e reformado para a Copa do Mundo. Com pontos cegos presentes e o torcedor muito distante do gramado.

Em Munique, o Allianz Arena, construído especialmente para o Mundial, tem uma visão absolutamente fantástica do gramado. Mas, para você chegar ao estádio, tem de caminhar quase um quilômetro da estação de metrô até a entrada.

A Copa do Mundo no Brasil é uma tremenda oportunidade para aprendermos muito sobre o esporte como negócio. E uma lição fundamental é sabermos que um estádio precisa ter muito mais do que apenas uma boa visão do campo e ausência de pontos cegos. Ele precisa ser viável economicamente. Qual plano de viabilidade foi apresentado pelas 12 sedes? Viabilidade para antes, durante e depois da Copa do Mundo. Essa é que tem de ser a discussão!

O Morumbi, do jeito que é hoje, não pode abrigar uma Copa do Mundo. Mas, com algumas reformas, ele estará capacitado. O metrô estará próximo e o estacionamento também será feito para comportar mais carros. Essas duas obras ficarão para depois do Mundial.

Existe sentido em gastar mais dinheiro para um novo estádio? Se ele vier, qual outro será abandonado? Pacaembu, Morumbi, Palestra Itália, Canindé?

Enquanto o torcedor pensar com o coração a respeito do estádio paulistano para a Copa de 2014, é muito provável que ele se veja, em 2050, pagando a conta dessa quinta arena...

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