Hortência está preocupada com o futuruo do basquete feminino brasileiro/Crédito: CBB |
Do Diário de S. Paulo - 30/09/2010
Rainha da sucata
Soberana de uma modalidade em crise, a ex-jogadora Hortência prevê dias difíceis e uma batalha árdua na busca da classificação brasileira para os Jogos Olímpicos de Londres-2012. Mas ela não entrega os pontos
Marta Teixeira
Perder para a República Tcheca, nesta quarta no Campeonato Mundial, pode ter sido apenas a ponta de um verdadeiro iceberg de problemas que a seleção brasileira feminina de basquete ainda precisará enfrentar.
Primeira chance de classificação para os Jogos Olímpicos de Londres-2012, o torneio deixou claro que a luta pela vaga será um imenso desafio.
A próxima oportunidade virá no Pré-Olímpico das Américas, em julho do ano que vem, ainda sem local definido. Depois disso, a última cartada acontecerá no Pré-Olímpico Mundial, uma repescagem incluindo candidatas de todos os continentes, em junho de 2012.
"A gente sabia que não seria fácil, e sabemos que vamos continuar a ter problemas", admite a ex-jogadora Hortência, diretora do departamento feminino da Confederação Brasileira de Basquete (CBB).
Campeã mundial em 1994, vice-campeã olímpica dois anos depois, integrante do Hall da Fama do basquete e chamada de rainha nas quadras, Hortência assumiu uma modalidade em frangalhos tentando repetir a trajetória da personagem representada pela atriz Regina Duarte no folhetim novelesco de 1990 que se transformou na Rainha da Sucata.
Com um projeto estabelecido até as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, o basquete feminino vive o impasse de se renovar e busca inspiração no vitorioso vôlei para ressurgir das cinzas. "O que é forte é a marca vôlei porque geração após geração os resultados estão lá. Se tivessem feito um projeto sério de renovação lá atrás, quando fomos campeãs mundiais e todo mundo queria jogar basquete, não estaríamos assim", afirma a dirigente.
Apesar do fracasso no Mundial, Hortência avisa que não haverá mudanças radicais no projeto original para a modalidade. "Nosso trabalho é de médio a longo prazo. Só muda tudo quem não sabe para onde está indo. Analisamos todos os riscos e sabemos para onde queremos ir", diz a ex-jogadora. Ela reconhece que, com apenas duas vitórias, a seleção deixou a desejar. "Mas o time está unido e consciente disso", completa.
Entrevista
DIÁRIO - Como avalia o resultado da seleção?
HORTÊNCIA - Não foi o almejado. O time não rendeu o que poderia, mas a gente sabia que não seria fácil. Não se enganem, outros Mundiais foram conquistados em cima de duas ou três jogadoras apenas, e hoje não é mais assim.
DIÁRIO - Qual foi o problema?
HORTÊNCIA - Aquele primeiro jogo (derrota por um ponto para a Coreia do Sul) mexeu muito com elas, e quando o time reagiu já era tarde. As pessoas estão criticando e têm razão. Se eu tivesse visto pela televisão, faria o mesmo. Elas não jogaram bem, mas não foi por causa desse momento.
DIÁRIO - O que precisa ser feito?
HORTÊNCIA - Um trabalho de base. Não temos quantidade para tirar qualidade, esta é a verdade. Temos jogadoras de 37 e 38 anos no time porque estávamos carentes, e mais na frente isso vai ser um problema. Precisamos fortalecer nosso campeonato interno, que já foi o melhor do mundo
DIÁRIO - O Brasil corre o risco de não se classificar para Londres?
HORTÊNCIA - Estamos trabalhando para que isso não aconteça, mas 2011 é um problema sério. Não sabemos se vamos poder contar com a Érika porque tem a WNBA. É fácil falar de técnico e jogadoras, mas não é fácil estar no lugar deles.
DIÁRIO - Qual a situação do Carlos Colinas, ele continua na seleção?
HORTÊNCIA - Não vou falar a respeito disso, ainda, porque estamos no meio da competição e o Colinas ainda é o meu técnico. Ele é uma pessoa muito digna, realizou um trabalho correto e estou do lado dele até o fim.
DIÁRIO - É a favor de atletas estrangeiras no Nacional?
HORTÊNCIA - Claro.
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