Potência olímpica? É tarde demais
Meta do COB para o Rio é levar o Brasil ao top 10 no quadro de medalhas. Mas não há tempo para formar campeões do zero
Valéria Zukeran
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tem buscado se informar com especialistas sobre o que fazer para tornar o Brasil uma potência olímpica até 2016. Na recente apresentação da mais tradicional equipe de atletismo do País, a BM&F, o diretor, Sérgio Coutinho Nogueira, contou que foi um dos procurados pela entidade. "Eles me perguntaram o que poderia ser feito captar talentos e a criar um campeão para 2016. Minha resposta foi: "É tarde demais". Basta pensar que a Maurren (Maggi) levou 13, 14 anos das primeiras competições até que chegasse ao ouro em Pequim (no salto em distância)."
Em setembro do ano passado, o COB divulgou sua meta para a Olimpíada do Rio: subir do atual 23.º lugar no quadro de medalhas, obtido em Pequim em 2008, para 10.º. É um objetivo ousado se considerado o fato de que o Brasil conquistou 15 medalhas na China (3 de ouro) contra 40 da França, que ficou em 10.º (7 de ouro). Nos bastidores esportivos há consenso de que um país costuma conquistar, em média, metade das medalhas de ouro nas modalidades em que se considera entre os favoritos. A conta do COB é que, dos atuais 8 ouros, o Brasil passe a lutar por 13 em 2016. Porém o plano pode dar errado se outros países progredirem mais.
O cruzamento de informações entre o quadro de medalhas e o programa olímpico de Pequim mostra que as principais conquistas das três maiores potências nos Jogos tiveram origem nas 10 modalidades que mais oferecem medalhas (veja abaixo). A China conquistou ouro em 8 dos 10 esportes mais "medalheiros", enquanto os Estados Unidos ficaram no mais alto do pódio em 7 e a Rússia em 5.
Não fica difícil concluir que, para um país se tornar potência olímpica, será necessário forte investimento nos esportes mais generosos na oferta de ouros. A China percebeu a relação, tanto que, no balanço dos Jogos de 2008, já anunciava o aumento dos investimentos em modalidades que proporcionam muitas medalhas - como, por exemplo, o ciclismo - com o objetivo de aumentar sua hegemonia.
No Brasil. Se tomarmos o exemplo dos campeões olímpicos nacionais, a constatação é de que a observação de Coutinho Nogueira extrapola os limites do atletismo. Em geral, a trajetória da iniciação de um talento até o ouro levou mais de uma década, casos de Robert Scheidt e Cesar Cielo, quando não duas, como com Maurren Maggi e Rogério Sampaio.
Nas confederações, os dirigentes são cautelosos na hora de opinar se é possível revelar e preparar um campeão olímpico em cinco anos. "Nunca podemos descartar a possibilidade do surgimento de um fora de série, mas sabemos que, pelo menos no caso do judô, a base da equipe que representará o Brasil em 2016 já se destaca em Mundiais das categorias de base e começa a disputar vagas nas seletivas para a seleção permanente olímpica principal", observa o coordenador técnico da Confederação Brasileira de Judô, Ney Wilson.
A natação usa estatísticas para fazer a projeção de seus campeões olímpicos em 2016 baseada em uma pesquisa organizada pelo supervisor Ricardo de Moura, que aponta os medalhistas em potencial. Boa parte já compete na categoria adulta.
Nem mesmo esportes no qual os talentos precisam nascer precocemente, como a ginástica, a perspectiva de um campeão em cinco anos é vista com otimismo porque, se é possível termos campeãs com 16 anos, foi por meio de crianças que competiam em média 8 anos antes.
Nas modalidades nas quais o Brasil não tem tradição, como a luta olímpica e o tiro (apesar de o esporte ter proporcionado a primeira medalha olímpica brasileira), isso é considerado impossível. Na luta, ainda há a esperança de captar talentos vindos de outras modalidades. "Talvez seja possível criar um campeão olímpico em cinco anos se ele tiver base de outro esporte de luta, principalmente o judô. Mas acredito que, hoje, 80% da nossa equipe olímpica de 2016 já esteja praticando luta", diz o superintendente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA), Roberto Leitão.
No tiro a tarefa é mais inglória. Esperanças olímpicas são obra do acaso, como o jovem Felipe Wu, prata nos Jogos Olímpicos da Juventude. Filho de chineses praticantes do tiro, o jovem foi iniciado cedo. "Mas isso é difícil de ocorrer no Brasil. Há preconceito em relação ao esporte. Muitos pais associam o tiro esportivo com violência, apesar de isso estar longe da realidade", garante o assessor da presidência da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, Ronaldo Silva Freire.
A conclusão ao conversar com técnicos e dirigentes esportivos é preocupante: com exceção de algum talento excepcional, o investimento no esporte desde o anúncio do Brasil como sede olímpica servirá para 2020. A colheita do COB em 2016 será, fundamentalmente, resultado das sementes plantadas nas categorias de base entre 1996 e 2000.
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